Caro professor Ricardo Silveira, tudo bem?

conforme nos falamos por celular, aqui no Rio, estou lhe enviando as perguntas sobre a gestão de Claudio Mendonça à frente da secretaria de educação. O senhor me disse tb que tem dados comparativos. seria interessante expô-los para enriquecer a nossa entrevista.

att,
Murilo Fiuza

1) Como e quando o senhor conheceu o Claudio Mendonça?

Conheci o Claudio quando ele estava sub-Secretário para a área social (confirmar cargo) da SEGAB (Secretaria do Gabinete do Governador). Ele foi colocado como responsável, por parte do governo do Rio de Janeiro, pela preparação do projeto de educação básica que estava sendo então pleiteado pelo estado ao Banco Mundial. Fiquei muito bem impressionado pelo nível intelectual assim como pela determinação do Claudio. Num lugar em que as pessoas hesitavam muito em decidir, encontrei uma pessoa de mente ágil que não tinha medo de tomar decisões. Além do mais, as decisões me pareciam muito acertadas.

2) Qual a sua avaliação da gestão do Claudio na secretaria? e 3) Fazendo comparações com gestões passadas no Estado, quais são os avanços q ele trouxe para a Educação do Rio e o que a inda precisa ser melhorado?

Durante o longo período de preparação do proposto projeto de educação do estado do Rio de Janeiro, tive a oportunidade de conhecer vários Secretários de Educação. Cada um atuou dentro de conjunturas distintas, portanto seria infrutífero fazer comparações. Em termos absolutos e no contexto em que atuou, a gestão do Claudio pode ser colocada como muito bem sucedida. Embora os impactos educacionais só se verifiquem na sua totalidade quando avaliados a mais longo prazo, podemos constatar que Secretaria de Educação vem sistemáticamente optando por políticas públicas que favorecem a melhoria do sistema de educação e da performance dos alunos. Num sistema com tantos desafios como o do estado do Rio de Janeiro, a pior atitude seria a de simplesmente gerenciar o status quo. Parafraseando (existe essa palavra em português?) G.B. Shaw, cometer erros é não somente mais h onroso como também mais útil do que não agir. No caso do Rio, a inércia nos conduziria a uma espiral de deficiências sistêmicas e mau desempenho escolar. Claudio teve a coragem de mudar, de arriscar soluções fora da caixa.

Para responder sobre possíveis melhorias no Programa de Educação do estado eu teria que estar acompanhando a implementação do Programa mais de perto. Talvez mais importante que os detalhes do trajeto para se alcançar uma melhor educação no estado do Rio é que o destino, i.e., os objetivos almejados, estejam corretos e sejam realistas.

4) Qual programa o senhor destacaria da gestão do Claudio? Porque?

Em termos de impacto no sistema educacional, eu destacaria o Pro Rede que visa a restruturação da rêde pública estadual. O Claudio resolveu enfrentar um dos maiores gargalos no sistema, que é a racionalização de professores em sala de aula. No final, entre a racionalização via planejamento detalhado da alocação de professores em turmas e a contratação de concursados eu creio que restou menos de 5% do deficit inicial. Isso é um resultado significativo.

Já na área pedagógica, creio que a maior perspectiva de impacto viria dos programas compensatórios que promovem um melhor acompanhamento pedagógico para as escolas com piores índices de aprovação e aceleram o fluxo escolar. Eu citaria também o programa estadual de leitura, que usa da genialidade do maior cartunista da America Latina--Ziraldo--para incentivar o desejo de ler na população escolar. O Banco reconhece a eficiência de programas desse tipo (compensatórios e de incentivo à leitura) que fazem parte de vários projetos financiados pelo Banco no Brasil e em outros países membros.

5) Quais são suas considerações finais?

A existência de uma política de educação estável no s últimos dois anos tem sido um fator importante no progresso obtido na educação do Rio de Janeiro. É preciso ter continuidada nas ações iniciadas pelo Claudio; qualquer transição que ocorra, caso ele venha a sair do cargo, precisa ser acompanhada de garantias de que os programas serão mantidos e que os funcionários trabalhando nesses programas não serão substituídos por motivos não-técnicos.

Ricardo Silveira
Senior Operations Officer, Latin America and the Carribean Region, World Bank