Uma breve reflexão intrigante
Por Cláudio Mendonça em 23/10/2010
Inevitável refletir sobre o epicentro do pensamento Levinasiano e a questão da Burca uma vez que ela, ao ocultar o rosto, pode inibir a decorrente possibilidade de expressão, comunhão, encontro e imersão no outro. Ainda que o rosto não tenha de ser necessariamente visível em sua plenitude, completo em sua forma, ou mesmo da espécie humana. Ocultar o rosto na vida social merece reflexão, ainda que o corpo, o tom de voz e outros mecanismos físicos desvelem e até permitam a compreensão do Outro. Parece-nos irresistível pensar no impacto de um anteparo destes na relação fundadora, ainda que o uso não seja durante todo o tempo, no estabelecimento de um severo obstáculo à aqui decantada epifania do Outro.
Esta presença consiste em vir a nós, em fazer uma entrada. Isto pode ser enunciado da seguinte forma: o fenômeno que é a aparição do Outro, é também rosto; ou ainda (para mostrar esta entrada, a todo o instante, nova na imanência e na historicidade essencial do fenômeno): a epifania do rosto é visitação. Enquanto fenômeno já é, seja a que título for, imagem, manifestação cativa de sua forma plástica e muda, a epifania do rosto é viva. (Emmanuel Lévinas 1993:51).
Alguns livros tratam do assunto diretamente. Judith Butler em Vida Precaria: El Poder Del Duelo e de La Violencia e Peter Atterton, Matthew Calarco em Radicalizing Levinas que reproduz o texto de Butler, parecem concordar com o ponto de vista de que a manifestação mais clara do embate cultural e guerreiro do episódio afegão tenha sido a clara massificação dos rostos dos líderes adversários transformados na deformidade que a relação humana deveria trazer. São retratos mediáticos que pretendem caricaturar o humano e pintar o matiz da tirania, do terrorismo e do insuportável. Em mesmo movimento a queda das burcas. Sim a expressão queda das burcas como que para se confundir com a queda do muro, símbolos do triunfo de uma cultura sobre a outra. Rostos desvelados, nas salas e escritórios dos senhores da guerra em celebração ao esmagamento cultural “libertador”.
Este fenômeno da história recente parece ter como característica marcante a rotulação dos rostos: entre as faces da violência, as agora desnudas pela ausência da burca, e a do humano ocidental paradigmático. O texto traz uma pergunta realmente intrigante e que perece trazer a resposta dentro dela mesma: “¿Cómo podemos darnos cuenta de la diferencia entre el rostro inhumano pero humanizante, según Levinás, y la deshumanizacion que puede tener lugar por medio del rosto?”.
*Cláudio Mendonça foi chefe de Gabinete Parlamentar na Assembléia Nacional Constituinte (1988); Secretário Municipal de Fazenda e Administração (Resende, 1989-92); Secretário de Estado e Presidente do Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro (1994); Coordenador das áreas de Fazenda e Administração do Estado do Rio de Janeiro (1999-2002); Consultor do Banco Mundial (2002); Presidente do Instituto Brasileiro de Educação e Políticas Públicas – IBEPP (2002), Presidente da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Rio de Janeiro – FAETEC (2003); Secretário de Estado de Educação do Rio de Janeiro (2004-2006); Membro do Conselho de Análise Econômicas e Sociais do Rio de Janeiro (Fecomércio RJ – 2008); Presidente da Fundação Escola de Serviço Público FESP-RJ (2007/2009); Presidente Interino da Fundação Centro de Informação e Dados do Rio de Janeiro – CIDE (2008/2009); Em outubro de 2008 foi designado Conselheiro Titular do Conselho Estratégico de Informações da Cidade, do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos – IPP; Em abril de 2009 passou a presidir a Fundação Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro – CEPERJ. Em 01 de maio de 2009 foi nomeado como membro do Conselho Consultivo Municipal da Prefeitura de Niterói. Atualmente é Subsecretário de Estado da Subsecretaria de Capacitação de Pessoal da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (SEPLAG). Autor dos Livros: “Solidariedade do Conhecimento” e “Você Pode Fazer a Reforma Educacional”.
Fonte: Debates Culturais
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