Recebi de Paulo Ferraz a nota abaixo, motivada pelas entrevistas da professora Armanda Gurgel de Freitas , que tem tido tanta repercussão na imprensa e na Internet:
Quase todos sabem que temos problemas sérios na área de educação. No ensino fundamental conseguiu-se ao longo do tempo vagas para praticamente todas as crianças e jovens, MAS ainda sofremos com a qualidade média do ensino.Quase todos sabem que os fatores que mais influenciam são o histórico das condições sócio-econômicas dos pais (sendo história, nada pode ser feito) e a qualidade dos professores e diretores.
Por mais que alguns gostem de alardear, não existe correlação entre remuneração do professor ou infraestutura da escola e desempenho dos alunos. Ou seja, existem escolas sem condições e com professores ganhando mal com excelentes resultados e escolas com tudo, inclusive professores bem remunerados, com resultados ruins.
Existem muitos bons professores e diretores. A característica deles é sempre a mesma: foco no aprendizado e motivação do aluno. Muito trabalho e suor, e nunca achar que se o aluno não está aprendendo é problema de terceiros. São os heróis deste país que, assim como bons policiais, médicos, bombeiros, etc., deveriam ser parabenizados diariamente pelos cidadãos.
MAS, como em toda profissão, também existem muitos professores e diretores ruins. Todos com as mesmas características: desmotivados, faltantes com suas obrigações, e para eles a razão dos alunos não aprenderem nunca é deles e sim de outros fatores (salários baixos, infraestrutura, família, etc.).
Não tenho a menor ideia em que categoria que a prof. Amanda de Freitas, que virou um grande hit da internet, está. Só que alguns fatos me chamaram a atenção em sua entrevista no Globo de 20/5:
1) Um dos pontos altos do vídeo na internet é quando ela diz para os vereadores que ganha R$ 930,00. MAS ela não diz que isto é por 16 hrs de trabalho semanal, e que ganha outros R$ 1.217,00 por outras 16 hrs trabalhando em uma escola estadual. Ou seja, sua remuneração SALARIAL (ou seja, SEM incluir os diversos adicionais comuns no setor público) é de R$ 2.147,00 por 32 HRS semanais (que equivale a quase R$ 3 MIL, se ajustarmos para uma jornada de 44 horas típica de um trabalhador brasileiro). Não estou aqui para dizer se R$ 3 mil reais é muito ou pouco, mas é um fato que se trata de uma remuneração acima da média da maior parte das profissões universitárias com poucos anos de formatura.
2) Ela NÃO disse no depoimento filmado que NÃO dá mais aula. Ela pediu troca de função depois de uma depressão e agora trabalha na biblioteca de um colégio e no setor de informática numa escola municipal. Ela deveria estar feliz com isto, pois são poucos as profissões em que uma pessoa deprimida pode ser alocada a outra função estranha à sua competência.
3) Ela diz na entrevista que: “Esse caos que existe na educação não é um caos desorganizado, entre aspas, é um caos preparado, existe uma intenção para que a educação funcione desse jeito, para que os filhos da classe trabalhadora jamais atinjam altos níveis de cultura, para que no máximo eles aprendam um ofício.” Mas isto não é incoerente com o fato de que nos últimos 8 anos tivemos como presidente, e, portanto, responsável pela política educacional nacional, uma pessoa de origem na dita classe trabalhadora ?
4) Por fim, achei muito estranho a seguinte declaração (NOTA: os professores estão em greve no RN): “E a nossa atividade é principalmente manter o aluno em sala de aula, independente de qualquer coisa. Por isso que muitas vezes as pessoas confundem os responsáveis pelo caos e acham que a greve atrapalha os alunos.” Como é que greve NÃO atrapalha os alunos? Se o aluno não tem aula ele não aprende. Se assim não fosse não haveria necessidade de escolas e professores. Será que estamos diante de uma destas pessoas para quem no fundo o “tal do aluno é um detalhe”?
Fonte: Simon's Site