Educação solitária

Por Cláudio Mendonça em 25/09/2009

Os professores costumam fazer declarações que revelam um enorme ressentimento com a sociedade em geral diante do fato de se sentirem solitários na tarefa de educar. De fato, as pesquisas de opinião que abordam o tema, revelam que cada dia é maior a desoneração de responsabilidade dos pais em relação ao processo educacional de seus filhos. A população deseja uma escola que ensine gramática, regra de três, disciplina, limites, valores humanos e hábitos de higiene. Professores, por seu turno, se sentem vítimas de alunos “desinteressados” e “bagunceiros” que não reconhecem seu esforço profissional e acadêmico levando-se em conta ainda os baixos salários. Os lamentos formam coro na sala dos professores e vários alunos são considerados um problema que vai ser enfrentado com muita nota baixa até consolidar a repetência. É o momento do acerto de contas.

O estudante freqüentemente arrasta as suas dificuldades de aprendizagem, sem nenhum apoio, através de todo o ensino fundamental. Mal alfabetizado, tem baixas habilidades de interpretação de texto e isso vai afetando de forma progressiva todas as disciplinas. Da geografia à matemática a não aprendizagem de um conteúdo acaba por impedir a assimilação de outro. Com isso, as aulas que quase sempre são monótonas, ficam cada vez mais desinteressantes. Conversar e brincar com os colegas torna-se irresistível. A alternativa seria ficar quase 800 horas por ano sentado em silêncio, numa cadeira desconfortável, ouvindo uma palestra sem entender quase nada do que se diz. O problema parece estar enraizado em nosso sistema educacional.

Diante desse quadro, a inserção de equipes multidisciplinares no ambiente escolar é iniciativa ainda rara em nosso país, mas vem ganhando espaço como política pública em diversas outras nações e pode se transformar em importante aliado de pais, professores e estudantes. O psicólogo apóia jovens com dificuldades de aprendizagem que vão das graves crises familiares até uma não diagnosticada dislexia. O psicopedagogo orienta o professor a mudar a atitude em sala de aula e auxilia na construção de planos individuais de estudos para que o aluno supere dificuldades cognitivas específicas e passe a acompanhar a turma. O fonoaudiólogo consegue desenvolver a capacidade de atenção, concentração e memória, importantíssimas para o processo de aprendizagem. O assistente social desempenha um papel decisivo no enfrentamento de problemas sócio-econômicos que levam o aluno a perder aulas e abandonar a escola.

Estamos tão atrasados nesse campo que ainda em grandes centros urbanos existem milhares de crianças com atraso escolar por que simplesmente ainda não foi diagnosticada a necessidade de se utilizar óculos de grau! Longe de pretender ser a solução para o problema educacional brasileiro, a presença desses profissionais de forma sistêmica no ambiente escolar pode forjar mudanças de atitude, romper a solidão do profissional do magistério e promover importantes alianças em benefício do sucesso escolar.

*Cláudio Mendonça foi chefe de Gabinete Parlamentar na Assembléia Nacional Constituinte (1988); Secretário Municipal de Fazenda e Administração (Resende, 1989-92); Secretário de Estado e Presidente do Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro (1994); Coordenador das áreas de Fazenda e Administração do Estado do Rio de Janeiro (1999-2002); Consultor do Banco Mundial (2002); Presidente do Instituto Brasileiro de Educação e Políticas Públicas – IBEPP (2002), Presidente da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Rio de Janeiro – FAETEC (2003); Secretário de Estado de Educação do Rio de Janeiro (2004-2006); Membro do Conselho de Análise Econômicas e Sociais do Rio de Janeiro (Fecomércio RJ – 2008); Presidente da Fundação Escola de Serviço Público FESP-RJ (2007/2009); Presidente Interino da Fundação Centro de Informação e Dados do Rio de Janeiro – CIDE (2008/2009); Em outubro de 2008 foi designado Conselheiro Titular do Conselho Estratégico de Informações da Cidade, do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos – IPP; Em abril de 2009 passou a presidir a Fundação Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro – CEPERJ. Em 01 de maio de 2009 foi nomeado como membro do Conselho Consultivo Municipal da Prefeitura de Niterói. Atualmente é Subsecretário de Estado da Subsecretaria de Capacitação de Pessoal da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (SEPLAG). Autor dos Livros: “Solidariedade do Conhecimento” e “Você Pode Fazer a Reforma Educacional.

Fonte: Debates Culturais